domingo, 10 de fevereiro de 2008

Contos e romances

Desejos e Histórias

Escrever não é algo que dependa de uma opção: é como respirar, pensar, sentir. Ao ler meu romance, experimentei uma enorme dor melancólica, como nostalgia por uma perda irrecuperável. Bem diferente da dor angustiada que me dilacerava enquanto eu, flanando por sobre os meus vividos e achados, ia me apartando, de mim e do mundo, para, desintegrada, textualizar realidades fugidias e momentâneas.

Ler o que nasceu de mim provocou um novo estranhamento: de sangue gritando, respondendo a uma punhalada, de susto face a uma bofetada inesperada. Não me sinto mais escritora após a publicação do romance. Nem tampouco, aliviada. Pergunto a vocês (permito-me confessar-mesmo sabendo que posso decepcioná-los ou irritá-los que não tenho repostas para nada: apenas uma imensidão de dúvidas, num perguntar sem fim): o que faz um escritor não é a sua total dependência para com o escrever? Sua compulsão de criar, de inventar, de compreender?

Publicado em 1998 pela Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Cultura e Fundação de Cultura Cidade do Recife, Desejos e Histórias é o livro de estréia da autora.

Marion

“Marion é mais do que escritura e tinta no papel. Portanto, não posso fazer a apresentação desse livro de Márcia Meira Basto reduzindo-o a apenas aos elementos que compõem a própria tecitura do livro. Penso em Marion dentro do universo do sagrado. Das coisas ausentes que movem o mundo dentro-fora. Marion é mulher no feminino da sua fragilidade. Humana na sua totalidade. Ela vive no tempo do tudo que é nada, por isso presença viva no texto que pulsa. Na alma de Marion podemos tocar. Uno na diferença, feminina na sua alma imprecisa e intangível.” - Joana Cavalcanti

Em 1999, Márcia Basto lança a novela “Marion”, pela Cia. Pacífica.

Reescrevendo Contos de Fada

“Os contos de fadas falam de origens remotas, de ciclos de iniciação e de morte, falam do homem para o homem. Estão repletos de humanidade e transcendência, e por isso, chegam tão perto do inconsciente da alma. Por mais próximos que estejamos da cibercultura, do universo globalizado, de mitos urbanos e piratas do espaço, não estaremos muito distantes das nossas origens arcaicas, pois o caráter humano necessita de uma explicação para além do concreto e factural. A alma humana precisa de metáforas para alcançar dimensões mais puras de maturidade espiritual.

...Assim, acredito, verdadeiramente, que a releitura dos contos de fadas pelo grupo de estudo do Café Literário de Pernambuco, orientado pelo saber e pela sensibilidade do professor Sébastien Joachim, resultou numa significativa produção em torno dessa Literatura que conta mais do que segredos das nossas origens primordiais porque, de certa forma, também fala dos nossos desejos mais íntimos e secretos.” – Joana Cavalcanti

A coletânea “Reescrevendo Contos de Fada” é o resultado da produção dos autores Márcia Meira Basto; Djanira Rego Barros; Lúcio Ferreira; Maria Valderez de Freitas Leite; Telma Brilhante; Luciane Rizério de Oliveira e Edna Maria de Alcântara. A obra foi lançada em 2001 pela Companhia Editora de Pernambuco.

Amar elos vermelhos

Amar (os) elos abrindo a porta por onde a brancura da Menina invade vermelhos que sangram do corpo da Mulher. Amarelos fundindo, para sempre, a Menina e a Mulher na luz que ocupa todo o dentro da casa da infância. E, sem avidez, esperas ou lembranças, escreveu-se na entrega devotada do olhar do cão. Aceitando. Sem perguntas, nem formosura, Solenidade ou suculência de polpa e verões. Escreveu-se no nada, no chão, no vôo parado no beijo flor. No sangue coagulado do sonho da velhice. Na demência, Preguiça. Despindo cada palavra da maciez de pele, entranhando-se na concretude do caroço. Branco/Branquidez/Brancura libertando-me dos grilhões dos amar elos (da menina) e vermelhos (da mulher), trazendo-me o silêncio do mundo.

Contemplado com o Prêmio Lucilo Varejão do Conselho Municipal de Cultura, “Amar elos vermelhos” é o primeiro livro de contos de Márcia Basto, lançado em 2004 pela Prefeitura do Recife,a través da Fundação de Cultura Cidade do Recife.